quinta-feira, 11 de outubro de 2012



 FURTO dentro do ônibus (D 43 Universitária)

            As pessoas que me conhecem já sabem que quase nada me afeta. Digo quase nada, pois não dou importância para muitas “coisas” que a maioria dos mortais julga essenciais em suas vidas. Não ligo para sua cor, sua religião, seu cabelo, seu jeito de vestir ou de falar. Eu ligo, sim, para você! Para suas atitudes e seus valores. Talvez por isso me decepcione tanto em algumas situações cotidianas que, por estarem banalizadas, já não agridem mais a muitos.
            Hoje, ao retornar para casa ao meio-dia, dentro do ônibus D 43, Universitária, no sentido Ipiranga – Centro, lotado ao extremo, alguém FURTOU minha carteira.  Quando o ônibus parou na estação rodoviária, muitas pessoas desceram e eu encontrei um lugar para me sentar. Ao sentar, percebi que minha bolsa estava aberta. A “criatura” abriu uma parte da bolsa e “tirou” minha carteira.
            Minha reação imediata? O desespero. Não pelo dinheiro, nunca tenho mesmo, mas por meus cartões, afinal, faço tudo com os limites, os empréstimos, etc. Comecei a chorar e liguei para minha filha. Sim, a “criatura” não levou meu celular, barato e vagabundo por sinal, pois estava no bolso da frente da minha calça... Aos prantos, fui contando o que aconteceu. Uma gentil senhora, ao ouvir a conversa, me doou cinco reais para que eu pegasse o outro ônibus.
            Desci no final da linha e procurei um representante da Brigada Militar. Encontrei um perto do Mercado Público, que conversava alegremente com uma moça de batom vermelho, que me explicou onde ficava a delegacia mais próxima. Na Riachuelo, disse ele, a mais ou menos uma quatro quadras. Subi a Borges de Medeiros, dobrei à D na Riachuelo e perguntei num bar onde ficava a delegacia. O rapaz disse: _Aqui é o número 1.200 (mais ou menos, não lembro direito) e a delegacia é lá para baixo, pelo número 600. Segui. O telefone toca e minha filha, desesperada do outro lado, tenta acalmar meu pranto. Entro numa ferragem e uma senhora de má um copo com água gelada. Enquanto me acalmo, vamos conversando. Caminho mais um pouco.
             Encontro a delegacia.  Na esquina, num prédio velho e mal conservado, entro pela porta lateral. Uma escada (suja), uma sala (velha) e ninguém na recepção. Parecia estar abandonada.  Bato no balcão de madeira (velho), aparece um senhor. Mal abre a boca, pouco pergunta. Não parece interessado na minha dor. Pede meu nome, preenche um boletim de ocorrência (B.O.). Não pergunta sobre detalhes. Escreve e pronto. Enquanto tento me lembrar o que tinha na carteira, observo o ambiente. Tudo é velho!!! Prédio, mesas, cadeiras e objetos.
             Nas paredes, em murais feios e velhos, MUITOS AVISOS com o mesmo texto: BANHEIROS SEM CONDIÇÕES DE USO POR TEMPO INDETERMINADO.
            Neste instante, não sei se me apavoro por ter sido roubada, pelo atendimento sem nenhuma reação do profissional do balcão (feito de tábuas por alguém que, com certeza, não era marceneiro), pela distância da delegacia do centro da capital do Rio Grande do Sul, ou pelo fato de não poder, sequer, pedir para fazer xixi.  E, mesmo não querendo, as lágrimas escorrem...
            Como é difícil viver em sociedade.
            Fui roubada, atendida com indiferença, posso fazer xixi nas calças e ninguém dá a mínima. Na multidão, você pode chorar, berrar, implorar ou, até fazer suas necessidades fisiologias na roupa, dentro da delegacia de polícia.
            Agora, sentada ao computador, penso como andei por aquelas ruas e consegui voltar para casa em tal estado emocional.  Viver em Porto Alegre, isso sim é para os fortes!
            Calma, a COPA DO MUNDO vem aí. Vamos oferecer para as pessoas que virão de todos os cantos do mundo ônibus lotados, assaltos grátis, atendimento sem cortesia e delegacias abandonadas. E sorrir, como políticos imbecis, recém eleitos, fazendo de conta que está tudo bem.
            A propósito: Usei tantas vezes a palavra “velho” ou “velha” porque foi realmente isso que me pareceu. Senti-me como devem se sentir os velhos de Porto Alegre: roubados, abandonados, entristecidos e sem nenhuma esperança.

ELEANA M. ROLOFF – Porto Alegre/RS, 11/10/2012.