sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Ab imo corde!



                                                  


                          
Ab imo corde! 1
                                                                                                                                                                                                  Eleana Margarete Roloff.
            Lemos, em algum lugar deste mundo virtual, palavras que dizem: “Depois que o sexo ficou fácil, o amor tornou-se difícil.” Nos momentos taciturnos, quando a solidão pesa, buscamos valores que a sociedade aponta como ultrapassados. A modernidade, o viver só em meio à multidão, não preencheu espaços que julgávamos desnecessários: A vida em comunidade, com regras; as brigas em família, com amor; a convivência a dois, com fidelidade.
            Agora, que somos ‘modernos’ e podemos dispor de nossos corpos como bem quisermos, passamos a sentir falta de costumes aos quais não dávamos relevância. Talvez neste momento, quando nos deparamos com tanta insatisfação, é que passamos a dar valor às dores alheias. Percebemos, tarde demais, quem sabe que, em outros tempos, ouvimos declarações de pessoas relatando suas dores diante deste ‘usar sem possuir’ e, por querer ou não, nem ligamos.
            Ligar aqui no sentido de construir laços afetivos e não como fazemos. Ligamos para a outra pessoa, distante das nossas atenções, e falamos de forma mecânica ‘eu te amo’, por telefone. Como se isso bastasse, a nós e ao outro. Essa ligação, que faz comunicação, não faz amor. Não basta!
            Desejamos escondidos, como se pecado fosse, que pudéssemos dizer ‘eu te amo’ de verdade, tocando a pele, cheirando, como os animais fazem... Em laços, nos braços, atados em nós cegos, com tempo e carinho. E deixar que essa aderência (ou seria carência?) se resolva, aos poucos, fielmente, sem telefone, trânsito ou internet.
            O ser humano, dizem, diferencia-se dos animais por saber cuidar dos seus. Sabemos? Ao nos deparamos com esta sensação de ninho vazio, consideramos com maior rigor as coisas ‘ultrapassadas’. Sentimos falta deste se ocupar com o outro, do zelo, do trato carinhoso.  Telefonemas, ecoando sentimentos duvidosos, distantes, não satisfazem mais. E, a fera sufocada em nós, seres modernos, vai corroendo nossas entranhas.
            Instante exato em que deveríamos parar. A vida transcorre e é chegada a hora de decidirmos. O que buscamos, afinal? Palavras fúteis, que se perderão no ar, por telefone? Ou, mesmo sem termos a intenção de assumir, percebemos que não bastam?
            Não somos felizes. Não precisamos de sexo mecânico que nos chega por mundos virtuais. Desejamos amor. De cuidar, unir, entregar, doar, ceder e conviver. Com-viver o outro. Sublimemente amar, olhando nos olhos, espelho do outro e morrer, languidamente... écs tóto córde! 2!



1 (abímo córde). Do fundo do coração; sinceramente.
2 (écs tóto córde). De todo o coração. Expressão latina usada no final das cartas.